quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Análise: Holy Motors (2012)

 

Direção: Leos Carax
Roteiro: Leos Carax
Elenco: Denis Lavant, Edith Scob, Kylie Monigue, Michel Piccoli, Eva Mendes
Duração: 115 minutos
Gênero: Drama / Fantasia
País: França
Idioma: Francês
Resumo: Algumas horas da vida de Monsieur Oscar, um homem misterioso que interpreta diferentes papéis à medida que o tempo vai passando.

Uma grande homenagem ao cinema. Creio que essa seja uma das possíveis interpretações que podemos dar a “Holy Motors”, último filme do diretor francês Leos Carax.  No entanto, existe bem mais do que os olhos podem facilmente enxergar nessa obra. Acompanhamos algumas horas na vida de Monsieur Oscar (Denis Lavant) que parte de sua casa para embarcar em um dia de trabalho em sua limusine, que é dirigida por Celine (Edith Scob) – que além de motorista, mostra ter alguma relação mais próxima com Oscar, pois se preocupa bastante com ele - e é equipada com os equipamentos necessários para que ele faça seu trabalho, que consiste em interpretar diferentes papéis, de acordo com uma ficha que recebe. A atuação de Denis Lavant quando incorpora cada um dos papéis é de encher os olhos. É impressionante como o ator consegue se transformar a cada personagem que interpreta, se tornando praticamente irreconhecível a cada 10 minutos de filme. 


 

E dentro de cada um dos personagens podem ser encontrados diferentes significados, tanto de maneira individual, dentro apenas de sua própria história, como dentro de um arco maior envolvendo todo o filme. Uma das interpretações que me vêm à cabeça é que, na verdade, cada um dos papéis que Oscar está interpretando seria uma forma de homenagear os diferentes gêneros do cinema. Temos o musical, o suspense, o terror, o drama, a comédia. Ou seja, uma grande quantidade de gêneros diferentes está lá, alguns em maior e outros em menor escala. Dos personagens interpretados, um dos mais marcantes é Mérde (que também esteve presente no curta que Carax dirigiu para a coletânea “Tokyo”), um mendigo/gnomo que sequestra uma modelo que está posando em um cemitério. 


Assim como grande parte dos filmes de David Lynch, “Holy Motors” não tem uma história facilmente decifrável logo de cara, mas vários elementos mostrados já nos permitem formular diversas teorias. A abertura do filme, em que um homem interpretado pelo próprio Carax sai de seu quarto e entra em uma sala de cinema para encontrar toda a platéia dormindo ao assistir um filme antigo já mostra muito sobre o que o filme fala. Além de mostrar de como ficou fácil “ir ao cinema”, com equipamentos que permitem ter uma experiência similar dentro de casa, a cena também é claramente uma crítica ao público moderno, que não aguenta ver um filme em preto e branco por achar entediante e que não gosta de ser desafiado, por achar que o filme deve apenas entreter e não fazer com que o espectador pense. A conversa na limusine entre Oscar e o personagem interpretado por Michel Piccoli acaba reforçando essa última teoria. Piccoli reclama que o público não está mais acreditando no que Oscar está interpretando, e este diz que ele próprio está tendo dificuldades para ficar à vontade, pois as câmeras estão ficando cada vez menores. Talvez Carax queira criticar também o excesso de tecnologia empregado atualmente no cinema, pois o que vemos nos dias de hoje são filmes com orçamentos cada vez maiores e com o uso extremo de técnicas cada vez mais avançadas, de modo que os que são feitos “à moda antiga” acabam, de maneira geral, arrecadando muito pouco e tendo um público ínfimo, e aqueles repletos de explosões e respostas fáceis acabam sempre gerando maiores lucros e maior aceitação do público.

 

De todo modo, não importa o que você entendeu de “Holy Motors”. O filme acaba sendo uma experiência agradável de qualquer maneira, deixando aquela pulga atrás da orelha para sabermos o que determinadas cenas querem nos dizer. Em 2012, tivemos grandes obras no cinema e, no entanto, pouquíssimas atingiram o nível de excelência que Carax alcançou com esse brilhante filme.




Clique no botão abaixo para ver o trailer do filme: 

2 comentários:

  1. Confesso que fiquei confuso após assistir o filme. Mas já vi análises iguais a sua sobre o sentido do filme, e eu tendo a concordar com tudo.
    Recomenda que faça uma análise do filme Lost Highway, esse seria um ótimo filme de discutir.

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    1. Lost Highway é tenso. Da vez que vi, lembro que entendi pouquíssimo.

      Vou tentar rever e conseguir achar algum significado.

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