quinta-feira, 4 de abril de 2013

Análise: Império dos Sonhos (Inland Empire, 2006)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Elenco: Laura Dern, Justin Theroux, Jeremy Irons, Grace Zabriskie, Laura Elena Harring, Harry Dean Stanton
Duração: 180 minutos
Gênero: Drama / Suspense
Países: Estados Unidos / Polônia / França
Idioma: Inglês / Polonês
Resumo: Uma atriz começa a adotar as atitudes de sua personagem enquanto mergulha em um mundo de surrealismo e pesadelos.



Que David Lynch é um cineasta que gosta de desafiar o público e mexer com suas emoções e sentimentos no nível mais íntimo possível, todos os que acompanham a sua carreira já sabiam. Não é à toa que existem diversos fóruns na internet com discussões intermináveis sobre o significado de alguns de seus filmes. Mesmo assim, até os fãs mais ávidos do cineasta sentem-se perdidos ao assistir Império dos Sonhos. O projeto foi iniciado a partir de curtas que Lynch gravou com Laura Dern e que, a princípio, não tinham nenhuma ligação entre si. Com o passar do tempo, o diretor conseguiu enxergar algumas ligações entre essas partes e começou a desenvolver a ideia a partir daí.

O início do filme já deixa o espectador com uma pulga atrás da orelha. É mostrada uma mulher chorando em um quarto, pessoas vestidas de coelho conversando em uma espécie de sitcom - e tais cenas foram baseadas no seriado Rabbits (2002), também dirigido por Lynch -, uma conversa entre mafiosos poloneses e outras cenas aparentemente sem sentido. Então somos transportados para a casa de Nikki (Laura Dern), atriz à espera de uma resposta sobre um teste que fez para um papel e que recebe sua vizinha, interpretada por Grace Zabriskie, que está passando para conhecer a nova vizinhança. O diálogo entre as duas começa normal, mas começa a ser temperado com toques de surrealismo, com a visitante dizendo coisas como: "Haverá a porra de um assassinato no seu filme", "Se hoje fosse amanhã, você estaria sentada ali". Além disso, ela conta uma história de como nasceu o mal - ou uma versão dele.

Com isso, já se estabelece a atmosfera de paranoia que irá cercar o filme durante suas três horas de duração. À medida que Nikki vai se encontrando com o elenco do filme no qual atuará - entre eles Devon (Justin Theroux), Kingsley (Jeremy Irons) e outros personagens interpretados por William H. Macy, Laura Elena Harring e até Terry Crews -, ela começa a ser sugada para dentro do papel, não sabendo mais distinguir realidade da ficção. Isso já foi bem explorado em outras obras do diretor, como Estrada Perdida (Lost Highway, 1997) e Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001). Mas enquanto naqueles filmes conseguimos claramente enxergar um ponto que separa as linhas temporais, aqui - pelo menos ao assistir pela primeira vez - fica difícil distinguir onde estamos.

A direção de David Lynch se destaca bastante, de modo que este foi o primeiro filme que o diretor fez utilizando uma câmera digital - e ele já se declarou apaixonado pela técnica - e é possível ver como ele consegue se utilizar bem da liberdade proporcionada pela por ela, com movimentos ousados e muito foco no rosto dos atores. E falando nestes, é digna de nota a atuação de Laura Dern no filme. A atriz já colaborou com Lynch em outras ocasiões, mas nunca esteve tão bem como em Império dos Sonhos. Se o filme faz questão de deixar os espectadores confusos, Dern consegue mostrar claramente quando está interpretando cada uma das personagens ao incorporá-las em tal nível que o olhar, a voz, e até o sotaque delas se tornam diferentes. Curiosamente, David Lynch fez uma campanha viral para que a atriz fosse nomeada ao Oscar por essa atuação, mas infelizmente tal fato não aconteceu.

Embora se torne cansativo em algumas partes - principalmente pela confusão causada em algumas partes - Império dos Sonhos ainda consegue se sair como um bom filme. Decerto não é o melhor trabalho do diretor, mas com certeza consegue se destacar bastante, desafiando o espectador a tentar montar o complicado quebra cabeças proposto.

Um comentário:

  1. De fato, esse é o trabalho mais experimental do Lynch. Preciso rever novamente. Ao meu ver, o filme é uma mistura de sonhos e alucinações da personagem principal.

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