Direção:
Walter
Salles, Daniela Thomas
Roteiro:
George
Moura, Daniela Thomas, Braulio Mantovani (colaborador)
Elenco:
Sandra
Corveloni, João Baldasserini, Vinícius de Oliveira, Kaique Jesus Santos,
Geraldo Rodrigues
Duração: 113 minutos
Gênero: Drama
Países:
Brasil
Idioma:
Português
Resumo: A
história de quatro irmãos que moram com a mãe e precisam lutar para alcançar
seus sonhos.
Quando
eu assisto a filmes como LINHA DE PASSE,
sou invadido por um imenso sentimento de tristeza. Esse sentimento não é
proveniente dos acontecimentos do filme – apesar de eles serem fortes o
suficiente para causar isso – e sim por constatar que o nosso cinema possui
tanto potencial, mas o estado atual dele é desanimador. Ano após ano somos
bombardeados com filmes nacionais que muitas vezes conseguem financiamento por
motivos políticos, e não pelas qualidades artísticas de seus idealizadores. É
óbvio que em um país em que a valorização da cultura está bem abaixo de outras
necessidades, nós não podemos esperar um grande investimento no cinema. No
entanto, o pouco que é investido, acaba sendo em obras com um mínimo de
profundidade, dando a impressão de que o povo não é capaz de ser desafiado.
Assim, o cinema acaba apenas servindo como pão e circo, de modo que quem o freqüenta
acaba sendo bombardeado apenas com obras que farão todos saírem felizes do cinema, sem
saber muito bem o porquê. Faço questão de ressaltar isso pois o filme de Salles
não possui nenhum financiamento nacional, tendo sido feito totalmente através
de investidores internacionais. Claro que vários países necessitam de
investimento estatal para o desenvolvimento de seu cinema, e nossos vizinhos
argentinos são exemplos disso. Mas o porquê do cinema de lá ser bem mais
interessante que o daqui é assunto para outra hora.
Sendo
assim, peço desculpas, pois o intuito deste post não é fazer uma análise do atual
cenário em que se encontra o cinema brasileiro, e sim analisar o excelente LINHA DE PASSE, dirigido por Walter Salles e
Daniela Thomas. O filme segue a família de Cleusa (Sandra Corveloni), que mora
em uma pequena casa na periferia de São Paulo com seus quatro filhos, Reginaldo
(Kaique Jesus Santos), Dario (Vinícius de Oliveira), Dênis (João Baldasserini)
e Dinho (Geraldo Rodrigues). Cada um dos personagens possui sua própria
história, com problemas para se preocupar, além de serem responsáveis pela
manutenção de sua humilde residência. Reginaldo, o mais novo, é um adolescente
que anda o dia inteiro de ônibus em busca do seu pai, pois a única informação
que ele tem é que o mesmo é motorista. Dinho, um religioso fervoroso, está sempre
se referindo às pessoas como “irmão” e “irmã”, e adicionalmente trabalha à
noite como frentista. Dênis é motoboy, mas pouco consegue ajudar em casa, pois
o dinheiro que ganha é utilizado para pagar as dívidas relativas ao veículo.
Dario sonha em ser jogador de futebol, e, no entanto, acaba de completar 18
anos e não tem mais idade para ser selecionado em peneiras de clubes, então ele
resolve tomar outros rumos para perseguir o objetivo. Cleusa, que está grávida
do quinto filho, trabalha como empregada em uma residência de classe média-alta.
O
que mais chama a atenção no filme é que todos os personagens são dolorosamente críveis.
Após assisti-lo, me senti praticamente obrigado a fazer uma pesquisa sobre os
atores, e vi que tirando a Sandra Corveloni e o Vinicius de Oliveira (que
interpretou o pequeno Josué em CENTRAL DO BRASIL (1998)),
todos os atores presentes no filme estavam em seu primeiro papel - e não
poderiam ter estreado de maneira melhor. O modo como seus diálogos soam
naturais bem como as próprias expressões deles fazem com que acreditemos que
eles realmente estavam vivendo aquilo. Aqui dou um exemplo bem simples: em uma
cena, Dênis vai até a casa da mulher com quem ele tem um filho. Eles têm uma
breve conversa, e antes de ele sair, ele a agarra e dá um beijo. No momento que
o beijo acaba, ela fala: “Pior que você ainda beija tão gostoso”. O jeito
que ela fala, com a voz trêmula e com os olhos enchendo de lágrimas me fazem
acreditar que eles realmente tiveram algo, e, mesmo que para ele talvez não
tenha significado nada, para ela com certeza significou. Outro exemplo é a cena
em que Dinho está na igreja e o pastor tenta realizar um tipo de milagre. É
possível ver nos olhos do ator o momento em que o personagem começa a
questionar a sua fé.
Apesar
de ter alguns momentos que soam pouco interessantes, como a busca de Reginaldo
por seu pai, o conjunto acaba sendo mais poderoso do que as partes, o que faz
de “Linha de Passe” um filme marcante. A realidade que é mostrada nele é
palpável e não vem acompanhada de romantizações, daquelas em que seus
protagonistas tentam mudar o mundo, sendo que nem conseguem organizar sua
própria vida. Em “Linha de Passe”, não existem heróis, mesmo porque a vida nem
sempre dá oportunidade para que as pessoas se transformem neles.
0 comentários:
Postar um comentário