quarta-feira, 17 de abril de 2013

Análise: Trilogia Millenium - Parte 1: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (Män Som Hatar Kvinnor, 2009)

Direção: Niels Arden Oplev
Roteiro: Nikolaj Arcel, Rasmus Heisterberg
Elenco: Noomi Rapace, Michael Nyqvist, Sven-Bertil Taube, Peter Andersson, Lena Endre
Duração: 152 minutos
Gênero: Mistério / Drama
Países: Suécia / Dinamarca / Alemanha / Noruega
Idioma: Sueco / Inglês
Resumo: Um jornalista é auxiliado por uma hacker profissional em sua investigação de um assassinato ocorrido há mais de 40 anos.

A ideia por trás da existência da personagem Lisbeth Salander não poderia ser mais curiosa. Criada pelo escritor Stieg Larsson, responsável pela trilogia de livros “Millenium”, a personagem foi baseada em uma pessoa cujo estupro foi presenciado por Larsson. Ainda em sua adolescência, o escritor presenciou um grupo de amigos estuprando uma garota – chamada Lisbeth – e, apesar de não participar ativamente do ato, também não fez nada para evitá-lo ou interrompê-lo por estar em choque, e também resolveu não denunciar os amigos por “lealdade”. Um tempo depois, tomado pelo remorso, Larsson pediu perdão a Lisbeth, que nunca o desculpou. Anos se passaram e o escritor virou um ativista ferrenho que lutava a favor dos direitos das mulheres, entre outras batalhas, como contra o corporativismo, assim como seu personagem Mikael Blomqvist. Também como seu personagem, Larsson era editor de uma revista e então resolveu virar escritor. Morreu aos 50 anos de ataque cardíaco, antes de ver seus livros publicados e presenciar o sucesso que eles se tornaram.

Em 2009, o diretor dinamarquês Niels Arden Oplev dirigiu o primeiro filme da série de livros publicados por Larsson, Os Homens Que Não Amavam As Mulheres e aqui vale ressaltar que houve uma refilmagem homônima em 2011 dirigida por David Fincher, mas esta não será comentada nesse post. O filme, apesar da nacionalidade do diretor, é falado em sueco e é ambientado neste país, assim como os livros. É curioso perceber que o filme possui duas histórias que, a princípio, são independentes, de modo que os personagens principais, Lisbeth Salander (Noomi Rapace) e Mikael Blomqvist (Michael Nyqvist) passam praticamente metade do filme sem se encontrar. E é aí que entra a grande qualidade da história: ela é tão bem contada que nos importamos com os personagens a ponto de manter o interesse em alta quando eles estão separados e mais ainda quando estes se juntam.


O fio condutor que vai levá-los ao encontro é um assassinato que está sendo investigado por Blomqvist. O jornalista, que recentemente foi condenado por levantar falsas acusações contra um grande empresário, é convidado pelo magnata Henrik Vanger (Sven-Bertil Taube) para investigar o sumiço de sua sobrinha, Harriet Vanger, desaparecida em 1966. Henrik acredita que Harriet foi assassinada - apesar do corpo dela nunca ter sido encontrado - pois todos os anos ele recebe o mesmo presente de aniversário que recebia da sobrinha, o que o leva a crer que essa é uma forma de o assassino debochar da situação.


E enquanto Blomqvist se aprofunda cada vez mais na investigação, também acompanhamos o desenvolvimento da personagem de Lisbeth Salander, uma das mais instigantes vistas no cinema nos últimos tempos. Ela trabalha como hacker profissional e tem um visual alternativo, repleto de piercings e tatuagens. E ao mesmo tempo em que ela consegue invadir a vida das pessoas ao hackear seus computadores, ela evita praticamente todo contato humano, de modo que só se utiliza dele quando necessita. Por já ter sido presa, Lisbeth não pode ser responsável pelo seu dinheiro, sendo este administrado pelo curador Nils Bjurman (Peter Andersson), que sempre a maltrata quando ela precisa de sua ajuda.  A cena em que a personagem chantageia Bjurman bem como uma cena que ocorre após seu encontro com Blomqvist, mostram a extrema frieza da personagem e sua manipulação que exerce nas pessoas que estão à sua volta.  Além disso, o recurso usado para que ambos entrem em contato não soa nem um pouco forçado, e acaba se encaixando na narrativa de maneira natural.


A partir do momento em que se encontram, Lisbeth e Blomqvist unem suas forças para tentar descobrir de uma vez por todas o que está atrás do sumiço de Harriet. E como se não bastasse, o que já estava ótimo acaba ficando ainda melhor, e o relacionamento entre os personagens é bem explorado. Apesar de o filme possuir aproximadamente duas horas e meia, ele não se torna cansativo, principalmente pelo grande tempo que o diretor usa para desenvolver os personagens - e com inteligência, pois nas continuações já não é preciso apresentá-los - e aproximar o público deles. Ainda vale ressaltar que com o desfecho dado, não seria necessário nem mesmo ocorrer uma continuação pois o filme se encerra de forma bem satisfatória.

3 comentários:

  1. Opa! Eu curti este filme no cinema, vi o segundo em casa e não gostei muito mas pretendo ver o terceiro, até por estar gostando muito na Rapace.

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  2. Eu gostei bastante do segundo, mas não tanto quanto do primeiro.

    E também tenho ficado bem interessado no trabalho da Rapace, ainda mais depois de Prometheus.

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  3. Meu primeiro contato foi com os livros. Fiquei muito impressionado com a força da trama. Quando lancarla os filmes já tinha muita imagem de personagens e ambientes, mas o filme completou com perfeição as lacunas. Por serem bem distintas as tramas do primeiro para o segundo, não tive como comparar. Não precisa. Ambos muito bons.

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