Análise: Interestelar (Interstellar, 2014)

Ficha Técnica:
Interestelar / Interstellar (2014)
Duração: 169 minutos
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Wes Bentley, Michael Caine, Matt Damon, Ellen Burstyn

Ficção científica geralmente causa reações do tipo "Ame ou odeie". Se o espectador vai assistir a um filme do gênero e pretende focar principalmente nas características físicas/realísticas do filme, muitas vezes pode sair decepcionado. Aconteceu muito isso com Gravidade (Gravity, 2013). Muitas pessoas não gostaram do filme por não terem conseguido ficar imersos em seu universo pelas impossibilidades mostradas lá. No meu caso, ele funcionou perfeitamente, e é uma das melhores experiências cinematográficas que tive nos últimos tempos.

Interestelar, por outro lado, é algo totalmente diferente. Antes de falar propriamente sobre o filme, cabem algumas considerações sobre o seu diretor, Christopher Nolan. Ele teve um início de carreira promissor, com seu segundo filme, Amnésia (Memento, 2000) sendo considerado um dos melhores filmes da década passada. Logo após, o diretor fez o criticado Insônia (Insomnia, 2002) e, a partir daí, começou uma ascensão meteórica na carreira que trouxe a nova trilogia do Batman (que fez pessoas como eu, que nunca foram fãs de super-heróis, gostarem dessa trilogia e ficarem ansiosos para cada novo capítulo), O Grande Truque (The Prestige, 2006) e A Origem (Inception, 2010). Com tantos filmes bons em sequência, o diretor conseguiu criar uma enorme base de fãs, que ficam ansiosos por qualquer trabalho novo dele. Então, se você realmente gosta de cinema, recomendo bastante que procure esses filmes para assistir, pois, em termos de cinema americano, o Nolan certamente está entre os melhores dos últimos anos.

Mas voltando a Interestelar. A história trata de um grupo de cientistas que são enviados a outra galáxia através de um "buraco de minhoca" (uma espécie de atalho através do espaço-tempo) para procurar um novo lar para os humanos, pois a vida na Terra não anda nada boa, com a comida ficando cada vez mais escassa e as plantações desaparecendo. O grupo de cientistas é composto por Cooper (Matthew McConaughey), Brand (Anne Hathaway), Romilly (David Gyasi) e Doyle (Wes Bentley). Além deles, há também um excelente elenco de coadjuvantes, com Michael Caine, Casey Affleck, Jessica Chastain e John Lithgow e Matt Damon. 

Inicialmente, cabe dizer que o filme é totalmente diferente de A Origem. Digo isso pois naquele filme, havia um personagem que era uma espécie de "manual", e sempre que algum novo conceito era mostrado, ele explicava como aquilo funcionava. Isso fazia com que aquele universo, que poderia se tornar confuso, acabasse ficando bastante "digerível". Já em Interestelar, Nolan confia bastante no seu público. Tirando algumas partes iniciais, como os planos para a salvação da humanidade e o que eles usarão para tal, muita coisa fica sem uma explicação fácil, gerando algumas dúvidas ao final da projeção. Não darei maiores spoilers sobre a trama pois realmente gostaria que as pessoas fossem assistir o filme sem ter muita ideia do que terão pela frente, assim como eu fiz. Isso certamente adiciona muito à experiência.

A trilha sonora merece ser destacada. Feita pelo grande Hans Zimmer, ela consegue aterrorizar em alguns momentos. O evento que ocorre no primeiro planeta que eles visitam fica ainda mais assustador aliado à música utilizada. Os efeitos especiais, por sua vez, acrescentam muito à experiência, e os desastres que ocorrem na Terra (e nesse planeta citado), junto com os detalhes que são mostrados do universo ficaram extremamente bem feitos. Outra coisa extremamente bem utilizada são os robôs. À primeira vista, eles são estranhos (pra ser sincero, eles são estranhos à todo momento), mas eles demonstram uma humanidade e utilidade bem interessante. E foi bom saber que não caímos no clichê dos robôs ganharem consciência própria e se tornarem os vilões da história.

Por outro lado, se tem algo que me incomodou, foi a motivação de alguns personagens para tomar algumas decisões, principalmente a do Cooper. Sem dar maiores detalhes, ele aceita sua missão muito facilmente, praticamente sem questionar, simplesmente porque falam pra ele, em outros termos, que ele "é o cara".Isso se agrava ainda mais no decorrer da viagem, quando alguns personagens falam alguma coisa mais específica da missão e ele demonstra não ter ideia do que é aquilo. Outra coisa que gera um desconforto (e que também acontecia em A Origem, só que melhor utilizado) é a necessidade que o Nolan teve de criar subplots desnecessários no roteiro. Em um dos momentos mais importantes do filme, em que é explicado um evento que liga toda a trama, temos cortes a cada trinta segundos para mostrar uma briga de família que parece ter sido criada só pra criar uma carga dramática que não precisava estar lá. Isso me lembrou bastante o filme A Viagem (Cloud Atlas, 2012), sendo que nele, a cada vez que chegávamos a um ápice na trama, a edição cortava para algo desinteressante, deixando o espectador furioso.

Em resumo, recomendo bastante o filme. As falhas que ele possui não invalidam a experiência de maneira alguma. Ele deixa muitas perguntas, mas isso faz com que tenhamos vontade de pesquisar e procurar as respostas. No meu caso, a primeira coisa que pensei no momento em que os créditos começaram a rolar foi: "Preciso rever esse filme algumas vezes".

Trailer:

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