quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Análise: Guerra Ao Terror (The Hurt Locker, 2008)



Ficha Técnica:
Guerra Ao Terror / The Hurt Locker (2008)
Duração: 132 minutos
Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly

Conseguimos perceber a inteligência de um diretor e a confiança que ele possui no seu público quando ele deixa a imagem falar mais do que as palavras. Um soldado americano que acaba de voltar do Iraque está fazendo compras no supermercado. Sua esposa pede que ele pegue uma caixa de cereais e ao chegar na prateleira, ele fica surpreso a infinidade de opções oferecidas. O jeito que ele olha para aqueles cereais, aliado com o aos movimentos de câmera utilizados para ilustrar a situação retratam perfeitamente tudo o que precisamos saber daquela cena. Ele não quer estar ali, não quer aquela vida, não quer ter essas opções. Em conversa com o filho, o mesmo soldado diz que quando você é criança, tem várias escolhas para fazer na vida. Quando já é adulto, sobram duas ou três. Para ele, só sobrou uma.


Estamos falando do Sargento William James (Jeremy Renner), membro do esquadrão anti-bombas do exército americano. Ele chega ao Iraque para ser um dos responsáveis pela equipe Delta, que está a apenas 40 dias de ir embora dali. James gosta da guerra. É visível a injeção de adrenalina que ele recebe quando há uma nova bomba para desarmar. Isso fica ainda mais óbvio quando uma delas é encontrada em um carro abandonado e ele tira toda a roupa de proteção, justificando que ali existem explosivos suficientes para mandá-lo direto para Jesus, independente do que estiver vestindo. Essa atitude de James acaba gerando problemas com seus colegas de pelotão, sendo que em certo momento dois deles conversam sobre a possibilidade de matá-lo "acidentalmente" durante uma operação, pois tudo que ele faz buscando essa emoção coloca em risco a vida de todos à sua volta.

O filme consegue mostrar muito bem o lado humano dos soldados. Quando estão em uma situação de perigo (coisa que acontece constantemente durante o filme), toda a decisão que eles tomam pode custar a vida de alguém. Se eles atiram em um civil que se aproxima deles em uma situação de desarmamento de explosivos, podem estar matando um inocente. Por outro lado, se nada fazem, podem acabar mortos pelo fato de o civil estar com algum dispositivo para explodir uma bomba - ou até mesmo ser um homem-bomba. É necessária uma frieza absurda por parte deles para tomar a decisão certa.

Com isso, Guerra Ao Terror não traz romantismos ao redor da guerra. Não vemos discursos heroicos, nem soldados passando correndo no meio de um tiroteio e derrubando 10 inimigos sem nem trocar o pente de munição. O que vemos são pessoas que estão em uma situação terrível, e que provavelmente não queriam nem estar ali - exceto James. Com isso, acabam cometendo erros por causa da pressão a que são submetidos, como, por exemplo, atirar por acidente nos próprios aliados ao encontrá-los em um beco escuro. O heroísmo que o filme retrata é refletido exatamente pela coragem que os soldados demonstram por estar lá, e não seus atos propriamente ditos.

Guerra Ao Terror foi um filme com uma caminhada curiosa. Lançado em 2008, participou do Festival de Veneza daquele ano e, tirando o prêmio principal, ganhou quase tudo que disputou. Como demorou muito para ser lançado nos EUA (somente em junho de 2009), acabou ficando elegível para participar do Oscar de 2010. Acabou levando o prêmio principal e outros 5 (Direção, Roteiro, Edição, Mixagem de Som e Edição de Som). De quebra, foi responsável por um feito histórico: Teve a primeira mulher a ganhar a estatueta de Melhor Diretor. Curiosamente, a entrega do prêmio a ela já aconteceu durante a madrugada de 8 de março de 2010, Dia Internacional da Mulher. E, pra fechar com chave de ouro, a vitória de Guerra Ao Terror evitou que Avatar (2009), franco-favorito à época, levasse esse prêmio.

Trailer:



Imagens:











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