domingo, 30 de novembro de 2014

Análise: 12 Anos de Escravidão (Twelve Years A Slave, 2013)


Ficha Técnica:
12 Anos de Escravidão / 12 Years a Slave (2013)
Duração: 134 minutos
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Scoot McNairy, Paul Dano

Tente imaginar por alguns segundos a sensação que é você sair da sua casa para ir a um bar com os amigos. Quando acorda, naquela ressaca, descobre que está acorrentado. A primeira pessoa que fala com você diz que você é um escravo e já te chicoteia à ponto de deixar suas costas em carne viva. Difícil imaginar, não? Mas é dessa maneira que somos introduzidos à história de Solomon Northup em 12 Anos de Escravidão.


Northup (Chiwetel Ejiofor) é um homem negro e livre, morador de NY de meados do século XIX. É chamado para trabalhar no circo por dois homens e acredita que eles são seus amigos. Após uma noite em que toma alguns drinks a mais, Northup se vê na situação descrita no parágrafo anterior. Ao tentar argumentar sobre a sua condição de ser livre e sobre seu local de moradia, Solomon é espancado e obrigado a aceitar que ele é da Georgia, é um escravo e que seu nome é Platt.

Logo nesse primeiro espancamento que Solomon sofre, é difícil se sentir indiferente. A cena é de uma realidade tão angustiante que quase chegamos a tentar desviar de cada golpe que lhe é desferido. A direção de Steve McQueen é muito precisa nesse sentido. O diretor não desvia a câmera do que está acontecendo ali, fazendo com que tudo fique mais incômodo. Nessa linha, temos a cena mais brutal e devastadora do filme (e certamente de todos esses filmes que assisti para o Especial do Mês), que é um take de cinco minutos em que Patsie (Lupita Nyong'o) é chicoteada impiedosamente, primeiro por Solomon (que é obrigado a fazê-lo) e depois pelo seu "dono" Edwin Epps (Michael Fassbender).

Outra cena que é das mais agoniantes é aquela em que Solomon é amarrado em uma árvore para ser enforcado. Após ele ter uma discussão com Tibeats (Paul Dano), ele é deixado à sua sorte em uma cena sem cortes, em que ele luta pela sua vida apenas utilizando a ponta dos pés, durando exatos 1 minuto e 25 segundos. vEssas cenas ainda adquirem um peso maior pois, sempre que ocorrem, vemos pessoas passando pelo local (tanto escravos quanto não escravos). No entanto, ninguém acaba interferindo, ou porque não podem ou porque não querem.

O que mais machuca e incomoda em 12 Anos de Escravidão, é que o filme, assim como Guerra Ao Terror, é cru, sem romantismo, sem histórias heroicas. Existem alguns momentos de alívio, como quando Solomon dá uma bela surra em Tibeats. No entanto, momentos assim não se repetem, e o que vemos acaba causando espanto e tristeza.

O filme está repleto de atores competentíssimos: Chiwetel Ejiofor, Benedict Cumberbatch, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o (vencedora do Oscar pelo seu papel), Paul Dano. Todos têm grande destaque em seus papéis, e tem grande parte da responsabilidade pelo excelente resultado final. O jeito que McQueen filma, sem ficar utilizando vários cortes por cena, exige ainda mais de seus atores, mas o grupo selecionado dá - e muito bem - conta do recado.

A única falha do filme é com relação ao tratamento que McQueen dá ao tempo percorrido. Como o título diz, o filme mostra a vida de Solomon sendo escravo por um período de 12 anos. No entanto, por não cuidar tão bem da parte de maquiagem dos atores, a impressão que dá é que se passaram apenas alguns meses desde que ele ficou nessa situação. Apesar disso, esse problema acaba não influenciando tanto na narrativa.

Muitos falaram, na época em que 12 anos de Escravidão foi premiado como Melhor Filme, que esse resultado era apenas reflexo da chamada "White Guilt", o remorso que os brancos sentem pelo que fizeram com os negros. Não poderiam estar mais errados. McQueen nos entrega um filme excelente, que mesmo com uma concorrência fortíssima - tendo o maior número de bons filmes indicados, de todos os anos que esse Especial abrange -, faz jus ao prêmio. Torço para que esse seja o estopim para que McQueen comece a ter oportunidade de desenvolver cada vez mais seus projetos, pois, com apenas três filmes no currículo, o diretor se mostra um dos mais promissores atualmente.

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